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A Teoria do Retrocesso Comercial: Como o "Quase Perfeito" Vende Mais Que o Perfeito

   Do Autor -

Imagine uma empresa que, ao invés de buscar a perfeição nos seus produtos, a evita deliberadamente. Essa é a essência da Teoria do Retrocesso Comercial, uma proposta minha que analisa como gigantes do entretenimento digital manipulam suas franquias para manter o consumidor preso em um ciclo de frustração e expectativa.


O que é?

Essa teoria sugere que produtos lançados periodicamente — como franquias anuais de videogames — são propositalmente limitados ou até mesmo piorados em certos aspectos. O objetivo? Nunca entregar o produto ideal, mas sim manter o consumidor dependente da próxima versão.

A franquia FIFA, da EA SPORTS, é o exemplo mais emblemático. Em FIFA 16, a empresa chegou perigosamente perto do “jogo perfeito”: jogabilidade equilibrada, variedade de modos, e uma comunidade ativa de modders que mantêm o jogo vivo até hoje. 

Mas esse sucesso virou um problema. Em FIFA 17, a EA trocou o motor gráfico Ignite pela Frostbite, usado em jogos como Battlefield e Need for Speed. A mudança trouxe melhorias visuais, mas também serviu como barreira técnica para impedir a continuidade dos mods e edições que mantinham FIFA 16 relevante.

FIFA 17 trouxe o modo “The Journey”, uma campanha narrativa com o personagem Alex Hunter, que foi bem recebida por muitos fãs - mas nada que isso pudesse ser introduzido há 10 anos atrás. Mas ao mesmo tempo, vários elementos foram nitidamente piorados:

  • Cobranças de faltas e pênaltis: FIFA 17 introduziu um novo sistema mais complexo, que frustrou jogadores acostumados à simplicidade de FIFA 16.
  • Licenças e estádios: Algumas foram perdidas ou modificadas, gerando insatisfação na comunidade. Camp Nou do Barcelona o mais nítido.
  • Tamanho da bola: Sim, até isso virou motivo de crítica — muitos jogadores notaram uma escala visual estranha que afetava a imersão.

Essas mudanças não parecem acidentais. Elas se encaixam perfeitamente na lógica da Teoria do Retrocesso Comercial: entregar um produto inferior ao anterior, mas com uma ou duas novidades chamativas para justificar a compra. E claro, no ano seguinte "corrigir" este problema... adicionando outros.



A Comunidade Não Esquece

    FIFA 16 continua sendo amplamente modificado e jogado por fãs até hoje. Fóruns como FIFA Infinity e SoccerGaming mantêm viva a chama do que muitos consideram o melhor FIFA já feito. O autor do blog mesmo é um desses modders ativos.

    A EA, por sua vez, parece ter feito de tudo para enterrar essa versão — inclusive sempre retirando o game de sites oficiais de compra, como steam... epic games... etc. Nos EA FC's atuais (nome atual dos lançamentos da franquia) vimos novidades definitivamente polêmicas, como iluminação, inovações no modo carreira que, para aqueles que jogam a franquia há décadas sabem muito bem que teve o "ciclo dafrustração". 

O que é o Ciclo da Frustração?

A estratégia é clara:

  1. Ano 1: Lançamento quase perfeito.
  2. Ano 2: Retrocesso disfarçado de inovação.
  3. Ano 3: Correção parcial dos erros do ano anterior.
  4. Ano 4: Repetição do ciclo.

O consumidor, preso entre nostalgia e esperança, continua comprando. E a empresa continua lucrando. Fora o fato da empresa focar mais e mais no desenvolvimento do modo online.

A Teoria do Retrocesso Comercial nos convida a refletir: será que estamos comprando algo melhor, ou apenas algo diferente? A perfeição, ao que tudo indica, não é lucrativa. O “quase perfeito” — com doses calculadas de frustração — vende muito mais.

Outros exemplos

A indústria da moda é mestre em aplicar a Teoria do Retrocesso Comercial. Marcas lançam coleções que flertam com o ideal — cortes impecáveis, tecidos de qualidade — mas sempre deixam algo a desejar. No ano seguinte, corrigem o “erro” anterior, mas introduzem outro. Assim, o consumidor nunca tem o guarda-roupa definitivo. 

Exemplo: uma jaqueta que finalmente tem o caimento perfeito, mas vem com zíperes frágeis. Na próxima coleção, o zíper melhora, mas o corte muda. E assim por diante.

Até restaurantes e redes alimentícias aplicam essa lógica. Um hambúrguer pode ser lançado com um novo molho incrível, mas com pão ressecado. Na próxima versão, o pão melhora, mas o molho muda. O consumidor volta, esperando reencontrar o sabor ideal — que nunca vem por completo.

Marcas como McDonald’s e Burger King frequentemente alternam ingredientes, tamanhos e até nomes de produtos para manter o apelo da novidade, mesmo que isso signifique sacrificar a consistência.

Empresas como Apple e Samsung são especialistas em lançar smartphones com melhorias incrementais. A câmera melhora, mas a bateria piora. O design evolui, mas o carregador muda. O consumidor nunca tem o “smartphone definitivo” — apenas versões que se aproximam dele.

A ausência de recursos óbvios (como entrada para fone de ouvido, por exemplo) muitas vezes não é uma limitação técnica, mas uma escolha estratégica.


 Referências/Leia mais:

Em ingles: https://www.businessinsider.com/fifa-16-review-2015-10

Em ingles: https://www.nomos-elibrary.de/document/download/pdf/uuid/b935cb15-e466-3dc1-ae36-e1f4675444c3

Em ingles: https://www.academia.edu/109193471/Ruins_of_Excess_Computer_Game_Images_and_the_Rendering_of_Technological_Obsolescence

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