Ad Code

Imagem de exemplo

O melhor álbum do Oasis

No outono de 1995, Oasis lançou o álbum que se tornaria a trilha sonora de uma geração: (What’s the Story) Morning Glory?. A rapidez da gravação deu ao disco uma energia que soa urgente até hoje, mas por trás dos hits há histórias de estúdio, pequenos acidentes criativos e escolhas arriscadas que transformaram canções simples em marcos culturais.

Um álbum feito com pressa e fé.



A gravação do álbum ocorreu em tempo recorde, com a banda trabalhando intensamente no Rockfield Studios e contando com a produção de Owen Morris ao lado de Noel Gallagher. A tensão entre a urgência de capturar o momento e o desejo de polir arranjos gerou um som cru e, ao mesmo tempo, polido na medida—uma combinação que ajudou Morning Glory a atravessar as décadas.


    A troca de bateristas

A mudança de baterista no Oasis durante a era Morning Glory foi um detalhe crucial e ajudou a definir o som e a atmosfera do disco. Tony McCarroll era o baterista original da banda: seu toque cru, direto e bem humano ajudou a formar a base rítmica dos primeiros passos do grupo - nisso ganhamos compassos memoráveis em músicas como Whatever e Live Forever

No entanto, nas sessões e na transição para o segundo álbum, houve atritos internos e decisões artísticas que levaram à sua saída e à entrada de Alan White, mudança que acabou marcada na biografia do álbum.


Quem era Tony McCarroll e o que saiu com ele?

Perfil musical: bateria seca, groove simples e eficaz; enfoque em manter o pulso, não em técnica flash.

Contribuição: McCarroll ajudou a estabelecer as batidas honestas que sustentaram os primeiros sucessos da banda; seu estilo soava popular e “terrivelmente humano”, o que combinava com o som cru do Oasis.

Contexto da saída: a demissão ocorreu em meio a tensões pessoais e profissionais na banda — divergências sobre capacidade técnica e direção artística foram citadas na época como motivos, além do desejo de Noel por um som mais controlado e versátil em estúdio.


Alan White e o que mudou:


Perfil sonoro: mais preciso, com toque mais “de estúdio”; confortável com variações dinâmicas - e bote dinamismo nisso, preenchimentos e arranjos ligeiramente mais elaborados.

Impacto no álbum: Alan gravou as partes que viriam a integrar a formação do disco e a turnê que se seguiu; sua presença ajudou a polir a base rítmica, dando ao produtor espaço para manipular o som (compressão, overdubs, “sujar” guitarras) sem que a bateria perdesse coesão.

Imagem pública: a troca virou narrativa — não apenas uma mudança de membros, mas sinal de um Oasis que atravessava de um som de garagem para uma máquina de arena.

"A troca virou a marca do álbum"

A substituição fez mais do que alterar timbres: simbolizou a profissionalização do grupo na passagem para um nível maior de exposição.

Morning Glory soa como um disco de contrastes — simplicidade melódica e produção agressiva — e a bateria foi eixo dessa tensão; a mudança para um baterista com toque mais controlado permitiu ao produtor e às guitarras explorar compressão e camadas sem perder o pulso.

Para fãs e críticos, a história da troca alimentou a mitologia do disco: rivalidade, decisões frias de bastidor e a imagem dos irmãos Gallagher comandando o destino da banda. A narrativa por trás do estalo humano era tão parte do álbum quanto os acordes.

Na prática, o som do álbum saiu mais “apertado”, pronto para rádio e arenas, com a bateria cedendo espaço ao arranjo e à produção pesada.

Humanomente, a troca deixou marcas: ressentimentos, entrevistas e, mais tarde, discussões públicas sobre créditos e quem fez o quê. Para McCarroll, a saída foi pessoal; para a banda, foi uma medida para seguir uma ambição sonora maior.

Em shows e na memória coletiva, o período ficou associado a um momento decisivo — quando o Oasis deixou de ser apenas “a banda da cidade” e passou a ser um fenômeno global.

A mudança de bateristas não foi um detalhe técnico escondido nos créditos: simbolizou a transformação do Oasis. Trocar o groove bruto de Tony McCarroll por um toque mais controlado com Alan White ajudou a moldar a textura de Morning Glory, e a própria história da troca alimentou a mitologia do disco — sujeira sonora, decisões impiedosas e a vontade de chegar mais alto.


Faixa a faixa: 

Some Might Say

Curiosamente, a última contribuição de Tony McCarroll, ainda com respingos do Definitely Maybe. Concebida como single de abertura para o álbum, a faixa traz o tipo de refrão explosivo que se tornou assinatura de Noel. Foi recebida como um retorno poderoso às guitarras e ao zeitgeist britânico, abrindo caminho para a atenção global ao disco.


Roll With It

Aqui já sentimos o gosto do suco de Alan. Lançada como single, a música entrou em polêmica pública por rivalidade percebida com outros artistas da época; sua energia direta e atitude “vamos lá” a tornaram um hino de briga e bancarrota emocional para muitos fãs. 

Batida que empurra o peito, caixa corta como resposta, rei de estrada e briga, bum-bum que não se desculpa, guitarra empurra o compasso, pés no asfalto, voz que convoca, tudo empurra junto — se a cidade quer guerra, a batida provoca.


Wonderwall

Se sentimos o suco, aqui vai a polpa: Nasceu como uma composição íntima de Noel com guitarra acústica e progressão hipnótica; a batida rápida, o arranjo econômico e a melodia fácil permitiram que a canção transcendesse o autor, virando uma das músicas mais cobertas e reconhecíveis da década.

Com um padrão de rasgueio que alterna down e up, o violão marca o tempo com um ataque firme no primeiro tempo e pequenos abafamentos para criar dinâmica; o baixo anda por baixo, preenchendo espaços sem competir com a clareza acústica. 

Em estúdio, a produção manteve essa economia — sujeira controlada e compressão leve — para transformar um gesto minimalista em impulso coletivo; ao vivo, essa batida se revela versátil, capaz de sustentar desde um sussurro íntimo até um refrão cantado em coro por dezenas de milhares.


Don’t Look Back in Anger

Escrita por Noel mas eternizada pela interpretação vocal de seu irmão Liam; o piano de entrada e o refrão catártico consolidaram seu status como hino de reconciliação e saudade.

Nessa faixa, a bateria acompanha a narrativa em vez de competir com ela, começando contida nas estrofes e abrindo nos pré-refrões para então empurrar com mais força no refrão; esse movimento cria tensão e liberação que tornam o refrão imediatamente catártico.


Cast No Shadow

Uma das faixas mais íntimas do álbum, traz influências que vão do folk ao rock britânico introspectivo; letras contemplativas e arranjos mais contidos revelam o lado mais reflexivo do compositor principal do grupo.


She’s Electric

Com tom mais leve e narrativo, a faixa mostra Noel brincando com personagens e pequenas histórias urbanas, entregando uma música descontraída que equilibra humor e observação social.


Morning Glory

A faixa-título traduz em riff e urgência o espírito do álbum; crua, imediata e repetitiva na medida certa, funciona como um pulso energético que empurra o restante do disco.


Champagne Supernova

Epílogo grandioso do álbum, a música cresceu em mitologia entre fãs pela letra enigmática e pela construção atmosférica. Gravada num clima quase improvisado, a faixa ganhou camadas sonoras e solos espaçados que ajudaram a transformá-la em peça de longa duração nos shows e na memória coletiva.


Outras faixas e curiosidades

Canções como “Hello”, “Hey Now!”, e as faixas de encerramento carregam pequenas anedotas de estúdio, ideias surgidas rapidamente e ajustes de última hora que permaneceram exatamente por parecerem autênticos e funcionais dentro do disco; muitas decisões foram mais instinto do que cálculo, e esse instinto é parte central do charme do álbum.

Morning Glory é um exemplo de como dinâmica de banda, decisões drásticas e pequenas improvisações se combinam para criar um impacto cultural. A batida de Wonderwall, as camadas de Champagne Supernova são sinais de que, às vezes, o brilho vem mais da convicção do que da meticulosidade.


Postar um comentário

0 Comentários