A Finlândia, um país reconhecido por suas paisagens idílicas, invernos longos e pela alta qualidade de vida, tem uma característica cultural bastante peculiar: seus cidadãos falam pouco.
Na foto: Kimi Räikkönen, conhecido esportista Finlandes. Fez sucesso com suas vitórias e também pelo seu hábito de falar pouco e deixar jornalistas surpresos com suas inesperadas, sinceras e curtas respostas.
Ao contrário do que possa parecer para estrangeiros, o silêncio na Finlândia não é desconfortável. Pelo contrário, é respeitado e valorizado. Para os finlandeses, o silêncio é uma oportunidade de reflexão e um sinal de respeito ao espaço pessoal do outro. Conversar apenas por formalidade ou para preencher o tempo não é algo que se encaixa na cultura finlandesa, onde a qualidade das palavras importa mais do que a quantidade. Assim, o silêncio é visto como uma forma de comunicação tão válida quanto a fala.
Em muitas interações cotidianas, é comum que os finlandeses utilizem palavras de forma econômica. Isso se reflete até mesmo em situações triviais, como a espera por um ônibus ou em reuniões familiares. Em vez de falar para evitar o silêncio, eles preferem usá-lo como uma ferramenta de conforto.
Em trecho rerirado da reportagem feita pelo site BBC, Tiina Latvala, ex-instrutora de inglês em Sodankylä, conta em seu trabalho:
"Os finlandeses frequentemente deixam de lado as sutilezas de conversas que são cultivadas em outras culturas, e normalmente não veem a necessidade de encontrar colegas estrangeiros, turistas e amigos." conta Latvala.
"Nós tivemos um exercício em que você tinha que fingir conhecer alguém pela primeira vez. A gente tinha que fingir que encontrava com alguém no café ou no ônibus e que a gente não se conhecia e batia um papo. Nós escrevemos na lousa todos os tópicos seguros para que eles não precisassem se esforçar em criar algo para falar. Nós tivemos que fazer um 'brainstorm' para isso. Os finlandeses geralmente acham isso muito difícil."
"A ideia de que nós finlandeses somos silenciosos nada mais é que um estereótipo que se difundiu entre as nacionalidades mais emotivas", disse um habitante do país. No entanto, os finlandeses não consideram a sua quietude ou a falta de conversas fiadas como algo negativo.
Influência do Clima e da Geografia
A geografia e o clima da Finlândia também moldaram esse traço cultural. Os invernos longos, com dias curtos e temperaturas rigorosas, favorecem atividades introspectivas e solitárias. Durante esses períodos, muitas comunidades passaram grande parte do tempo em ambientes fechados, o que incentivou um estilo de vida mais reservado e contemplativo.
Além disso, a natureza vasta e predominante no país, com florestas e lagos isolados, oferece um cenário propício à reclusão e ao silêncio. Viver em um ambiente que promove a tranquilidade e a introspecção naturalmente leva a uma menor necessidade de interação verbal constante.
Outro aspecto da cultura finlandesa é a comunicação direta. Enquanto em outras culturas é comum o uso de floreios verbais e small talk para suavizar interações, os finlandeses preferem ir direto ao ponto. Em reuniões profissionais, por exemplo, o tempo é dedicado ao conteúdo importante, com pouca ou nenhuma conversa trivial. O foco é sempre na eficiência e na objetividade.
Essa característica de comunicação direta pode, por vezes, ser interpretada como frieza por culturas que valorizam a cordialidade verbal. No entanto, para os finlandeses, essa é uma forma de demonstrar respeito: não ocupar o tempo do outro com o desnecessário.
O Ícone do Silêncio Finlandês
Um dos exemplos mais emblemáticos dessa cultura de falar pouco é o ex-piloto de Fórmula 1 Kimi Räikkönen, conhecido como o "Iceman" (Homem de Gelo). Ele ficou famoso por seu talento nas pistas e também por suas respostas curtas e, muitas vezes, lacônicas durante entrevistas.
Ao ser questionado sobre sua performance em uma corrida ou sobre eventos importantes ao seu redor, ele frequentemente oferecia respostas diretas e sem floreios.
Quando perguntado sobre o que achou de uma homenagem feita ao rei do futebol Pelé, antes de uma corrida em São Paulo: “Eu estava no banheiro cagando.”
Após ser questionado sobre uma estratégia de corrida complexa, respondeu: “Vai depender.”
Essa atitude indiferente e sucinta se tornou um símbolo de sua personalidade e também da cultura finlandesa, que prefere falar quando necessário.
Essa atitude indiferente e sucinta se tornou um símbolo de sua personalidade e também da cultura finlandesa, que prefere falar quando necessário.
O ex-presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, outro personagem conhecido pela sua fala direta e encurtada.
Além de Kimi, outros finlandeses famosos também refletem essa cultura do silêncio. O ex-presidente da Finlândia, Sauli Niinistö, é conhecido por ser econômico com as palavras, especialmente em seus discursos públicos. Ele prefere pronunciamentos curtos e focados no conteúdo, evitando discursos longos ou ornamentados.
A renomada autora Tove Jansson, criadora dos Moomins, também personifica essa introspecção cultural. Conhecida por sua reclusão e preferência por períodos de isolamento, ela refletia em suas obras uma profunda conexão com a natureza e a tranquilidade, característica comum da vida finlandesa.
Finalizando, a cultura do silêncio na Finlândia é algo intrínseco à vida de seu povo. Não se trata de frieza ou falta de emoção, caro leitor, é uma forma de valorizar o que de fato importa.



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